segunda-feira, 28 de abril de 2014

Discutindo a questão racial com André Pavel

Existe uma dinâmica midiática de entretenimento social em que o negro sempre é colado às margens da sociedade. Pensando nisto, neste ultimo sábado (26/04) marquei uma conversa com André Pavel (27), web jornalista no município de Gandu – baixo sul baiano, e discutimos as questões raciais no âmbito mercadológico e ideológico.


Ele inicia a conversa afirmando que “o negro pode conquistar o que quiser, pois temos potencial para isso”. Porém, também problematiza os espaços condicionados ao negro na sociedade e culpa a mídia como uma ferramenta construtora de estereótipos que fortalecem o racismo, determinando valores positivos ou negativos de acordo com os traços raciais.

Pensando nas questões televisivas, sendo este um dos maiores veículos de comunicação no Brasil, existe um padrão para representar o negro, por exemplo, “nas novelas atuais o negro é empregado ou o favelado” afirma Pavel.

Todo este processo condicionado provem de uma história escravocrata que mediante a uma cultura de brancos, os negros sempre ocuparam papeis sub-humanas, totalmente marginalizados e sem direito. E hoje, não é muito diferente.

Dados demonstram que o negro não ocupa cargos importantes no mercado de trabalho e isso não é por falta de qualificação. O acesso a direitos, como cotas nas universidades, ainda é questionada por muitos inclusive por negros que se consideram iguais, mas esquecem que não são tratados como iguais.

Comprovamos isto segundo a pesquisa realizada pela Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ) ao afirmar que afrodescendentes tem menos acesso à Previdência Social e conseqüentemente menor esperança de sobrevida no país. Nos dados referentes a 2008, 44,7% dos auto declarados pretos ou pardos não estavam protegidos pela Previdência Social.

Entre os auto declarados brancos, esse índice caiu para 34,5% (mulheres são mais afetadas do que os homens). Em todo o país, a expectativa de vida dos afrodescendentes de ambos os sexos era de 67,03 anos. Entre os auto declarados brancos, esse número subiu para 73,13 anos.

Para além desta questão, números do relatório apontam que, em 2008, 6,8 milhões de pessoas em todo país que frequentavam ou tinham frequentado a escola permaneciam analfabetos, sendo os afrodescendentes 71,6% do total. Nem metade das crianças negras e pardas, entre os 11 e os 14 anos, estudava na série esperada, e 84,5% das crianças afrodescendentes de até três anos não frequentavam creches.

Temos acesso aos mesmos direitos? 
O que é feito para resolver estas questões sociais?

Assumir-se diante de uma cultura de brancos é um passo importante e ao mesmo tempo desafiante. Para André a mídia diz o seguinte, “só porque a pessoa nasceu pobre, é negra e mora num bairro carente é o suficiente para ser um bandido”.

Refletindo sobre os estudos em sua adolescência ele diz ainda que “no período de escola os professores sempre disseram que eu era um cara inteligente [...] neste momento eu já percebia a capacidade das pessoas diante dos assuntos discutidos. Na época de prova, eu assumo, não estudava nada, mas eu sabia do conteúdo. Porém, a galera mais branca sempre conseguiu espaço de destaque.”

Para além destas questões escolares e os diversos olhares impregnados nas relações raciais que determinam o social “o racismo no Brasil possui dados alarmantes e não vai acabar do dia para a noite. Acredito que o negro precisa se impor, mostrando cada vez mais a sua capacidade e potencial”, conclui.

Pensando sobre o assunto, o passado está presente, mesmo que camuflado pelo sistema e pela mídia, sempre se mostra a favor de um lado (branco) da sociedade. Ao afirmarmos nossa estética negra estamos indo num contra senso social e fortalecimento o nosso debate a favor da igualdade.

André e eu :*


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