segunda-feira, 11 de agosto de 2014

“Seu Corpo é Belo”

Aqui estamos. Colocados, rodeados, às vezes paralisados e às vezes em movimento. Porém, continuamos aqui. Continuamos numa sociedade fragmentada, estereotipada, repleta de preconceitos embutidos pelo machismo, racismo, sexismo e diversas outras violências que nos fazem negar-nos.

Pergunto, como nos colocamos diante deste modelo social?

Questionar e lutar são bandeiras permanentes. Mas, é óbvio que para construir uma autonomia numa sociedade tão desigual em direitos o debate político e nossa postura social falam mais alto.

Luana Soares
Pensando neste posicionamento trago a tona o depoimento de Luana Soares, 23 anos, historiadora e assistente de ações de campo. Com convicções alicerçadas nos princípios feministas e alto estima construída numa perspectiva contra-hegemônica, desabafa ao afirmar que ser feminista, não a blinda de entrar em crise com o seu corpo, por ele não estar em consonância com o padrão de beleza.

Compreender a forma como lidamos com o nosso corpo se passa por processos íntimos e sociais. A relação que construímos com nós mesmas (os) são mecanismos de auto-afirmação, de uma postura que pode estar dentro de uma linha mercadológica e midiática ou não. Luana se contrapõe a tudo isso ao se afirmar como preta e gorda.

Para Ela “a auto-aceitação das mulheres negras e gordas é um processo diário de dizer a si mesmas, que apesar de não parecer nem com as brancas da mídia e nem com as negras, ainda assim seu corpo é belo, seu rosto é maravilhoso e todos os seus traços são lindos”.

A cada passo que damos em direção ao nosso EU nos deparamos com diversas formas de nos perceber quanto seres repletos de independência. Quando não nos vemos em nenhum padrão, quando nosso corpo não cabe numa calça 38, encontra-se revelada uma nova questão.

“Fico me questionando sobre o padrão de negra ideal. Aquela que parece com a Camilla, com a Thaís, com a Juliana. Essas, que valorosamente tem cumprido o papel de romper paradigmas sobre o padrão branco de beleza, mas que ainda assim, rompem apenas até certo ponto. Não entendeu o que quero dizer? Vamos fazer uma reflexão. Onde estão as negras gordas na mídia brasileira? Dou a resposta, cumprindo papel de "mamas". A negra gorda que é a empregada da casa, a negra gorda que cuida dos filhos dos brancos, a negra gorda que passa a vida tentando achar um par digno, a negra gorda que não tem vida social, a negra gorda que não pode ser sexy, a negra gorda engraçado, que esbarra em tudo, a negra gorda descontrolada e autoritária. Esses são os papeis que essas mulheres ocupam", declara nossa querida Luana.

Por detrás de cada universo social existe um rótulo, uma forma de compreender o outro e de colocá-lo dentro de um padrão aceitável.

Para além deste posicionamento, sempre nos deparamos com mensagens do tipo:

TRATE DE EMAGRECER!
NÃO DÁ PRA SER NEGRA E AINDA SER GORDA. OU UMA COISA OU OUTRA!

Luana acredita que é preciso “impor sua existência, impor sua respiração ao machismo, ao racismo e aos padrões magérrimos de beleza. Desfilar corpos negros, gordos e femininos por aí, é acima de tudo, um ato político. Resistiremos!" conclui.



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