segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Abrindo o Coração



Sempre quis conversar um pouco com vocês sobre a homossexualidade e como administro isso, até porque a sexualidade é um assunto polêmico e repleto de enfrentamentos diários.

Confronto-me cotidianamente com as risadas, com os olhares desconfiados, as piadinhas, a religião e com a minha família.

Vou me apresentar. Sou Wesley Lima, tenho 23 anos. Minha infância e meus valores foram construídos dentro de uma igreja (Isso é ruim? Claro que não!). Perdurei seguindo tais doutrinas durante 17 anos de minha vida, passei todo esse período negando-me e lutando comigo mesmo.

É difícil expressar esse momento. Mais difícil ainda era ser motivo de chacota. Minha alto estima estava baixa. Olhava para o meu reflexo no espelho e não conseguia visualizar quem realmente eu era, nem tão pouco entender os desejos que sentia. Chorei muitas vezes de joelho no chão e mais culpado ainda me sentia.

Com meus 15 anos senti pela primeira vez o beijo de um outro homem. Foi doce, suave e estranho. Meu corpo e meu coração queriam mais, porém minha cabeça me condenava. Os ensinamentos bíblicos me crucificavam.

E mais uma vez eu chorei!

O que estou sentindo? Quem eu sou? Estou sujo? Podre?

Neste período cogitei várias ideias. Tentei disfarçar e esconder. Porém, todos olhavam com aquele ar de desconfiado. As ‘fofoquinhas’ rolavam por todos os lados.

Um dia me apaixonei. Sabe aquele sentimento maluco que te enche de coragem de viver intensamente tudo aquilo que você quer? Pois é, fiquei com coragem de enfrentar o mundo. O que eu mais queria era estar nos braços dele, ouvir sua voz e sentir seu beijo.

Poxa [...] Depois disso, foi quase impossível encobrir alguma coisa.

Sempre fui muito intenso naquilo que vivo. Quando eu amo não sei disfarçar e quando eu odeio sei muito bem ser um inimigo. Esse novo sentimento fez as pessoas se afastarem, com isso não precisei dizer para nenhum amigo “sou gay”. As coisas aconteceram tão naturalmente que nem eu sei explicar.


Para minha família até hoje é mais complicado de lhe dá. Minha mãe soube por uma amiga e sofreu muito, meu pai fingi que eu não existo e encontra-se hoje totalmente ligado as doutrinas religiosas.

A minha mãe tornou-se cúmplice, uma pessoa que apóia todas as minhas decisões e meu pai continua distante (meus pais são separados). Eu não quero manter distância da minha família, nem tão pouco ter um futuro sem um abraço paterno. Porém, continuo sem saber como lidar com tudo isso.

Aos 18 entrei na faculdade e me formei aos 21. Fui amadurecendo e construindo meus próprios caminhos. Assumindo meu cabelo crespo, estudando a cultura negra e diversas religiões.

Sou militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e moro numa comunidade rural no município de Wenceslau Guimarães (05 horas de SSA).

Todos os dias me encontro debatendo sexualidade e racismo. Por quê? Porque não me vejo hoje fazendo outra coisa a não ser lutar por aquilo que sou e por uma sociedade de iguais em direitos.

Hoje eu me olho no espelho e sei muito bem o que vejo. Vejo uma pessoa lutadora, por mais que seja estigmatizada, é uma pessoa que acredita naquilo que faz e aos pouquinhos junto com uma multidão de pretos ou brancos, heteros ou homos vai construir uma sociedade melhor.




Vejam esses vídeos.
São histórias lindas!






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