sexta-feira, 3 de outubro de 2014

'Ser Negão é massa'

Uellington Palma

“Sou um jovem sonhador que busca a todo custo realizar seus objetivos. Além disso, sou a mistura de raças que existe na minha família (brancos, negros, pardos)”, declara o estudante e Web Design Uellington Palma (19).

Como é lindo ouvir um negro se assumir como a ‘Mistura’! Isso define de maneira significativa a construção de uma identidade única, que se diferencia e se constrói no decorrer da história.

Esse olhar voltado à identidade definida pela miscigenação do estudioso Kabengele Munanga se torna visível quando nos tempos atuais nos colocamos em um patamar de desenvolvimento sociocultural repleto de intervenções, gostos, saberes e raças.

Nos colocamos neste universo diversificado e aqui defendemos a igualdade, o respeito as diferenças e a construção de uma sociedade sem racismo.

“O meio social em que estou inserido, me vejo como um ser humano igual a qualquer outro, independente de raça ou cor de pele, somos todos iguais”, afirma Uellington.


Esta postura ressalta não apenas a inserção dentro de um contexto igualitário, mas também a perspectiva adotada por cada negro e negra como forma de combate a uma estrutura racial discriminatória.

Sim... Quando nos assumimos iguais, estamos nos colocando contra a uma hegemonia que prega a diferença.

O que fazer? Reafirmar? Sim. Por quê não? Reafirmar-se, transpor as barreiras invisíveis, ocupar espaços e assumir uma estética natural. Talvez seja uma forma para combater o discurso racista emitido todos os dias pela mídia e reproduzido pela sociedade.

Continuando nossa conversa, Uellington é incisivo em dizer que existe racismo, “é uma triste realidade, somos fruto de uma sociedade racista e preconceituosa, se não aceitarmos os fatos e lutar contra isso, vamos ter que conviver com isso por muito tempo”.

Poxa, até quando vamos fechar os olhos e acreditar que estamos realmente numa sociedade em que a cor da pele não nos define?

“Participando de desfiles, concursos, eu pude perceber que cada negro é único, seja na estética, estilo simpatia, etc. Usando isso a seu favor, você pode ir longe e alcançar coisas significativas para sua vida”, comenta ao falar um pouco sobre seu trabalho como modelo.

Além dessas experiências em Salvador e seu alto reconhecimento, Ele faz um paralelo entre as relações construídas no interior com a capital. “As cidades pequenas, na maioria das vezes possui um povo acostumados com seus conterrâneos, tem uma ligação próxima uma das outras. A cada 20 pessoas cinco se conhecem, o que facilita bastante o convívio, exatamente o oposto da capital. Cidade grande, você terá um bom convívio com pessoas só do seu bairro, sem contar com a rotina diária cansativa, trânsito, transporte público. Isso tudo causa muito estresse, que influência no comportamento da sociedade”.

“Salvador sendo a cidade onde se tem o maior número de negros no Brasil, me sinto apenas mais um, mas com o desejo de se destacar positivamente entre vários”, destaca.


Percebem como o processo de desconstrução de um estereótipo se faz presente nestas ultimas falas de nosso querido Uellington? Por um lado somos bombardeados de informações que nos inferioriza cotidianamente e por outro queremos destaque, mostrar nossa existência e claro, nossas capacidades e belezas.

Estar em espaços divididos socialmente é reestruturar os padrões hegemônicos de vida e quebrar barreiras.

São tantas histórias de negros que são vitimizados e motivo de risos ao entrar em lojas caras no shopping. Tudo se inicia com os olhares tortos, logo após, um atendente vem rapidamente ao seu encontro. Tem também aquele dia em que você não está com a melhor roupa e os seguranças ficam te perseguindo com o olhar [aff - já passei por isso].

Mais do que nunca, mostrar suas raízes é ressignificar sua identidade individual e fortalecer uma luta coletiva.



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